Pedro Pires Angola, 1978

Apresentação

O artista luso-angolano Pedro Pires é uma das figuras mais singulares entre os nomes emergentes da cena internacional de arte contemporânea. Dotado de uma inventividade distinta e de um notável impulso experimental — seja na recolha, utilização e assemblagem de objectos e materiais de todo o tipo, seja na realização de acções disruptivas com fogo e maçarico — os seus processos de criação revelam uma certa ligação à antiga prática da alquimia. Focando-se em fenómenos como a transitoriedade, a mutação, a inscrição, a emanação e a desintegração, o artista compõe simultaneamente com parâmetros controlados e com o acaso, acolhendo o acidental e o contingente dentro de quadros específicos previamente estabelecidos. Trabalhando sobretudo em escultura, instalações e intervenções sobre papel, desenvolveu formas únicas de modelar a figura humana, que constitui o núcleo central de toda a sua obra.

 

Os trabalhos sobre papel, de estilo profundamente pessoal, apresentam formas antropomórficas centradas sobre o fundo nu, branco ou negro. As figuras, em tons escuros e surgindo incompletas, fragmentadas ou mutiladas, emergem de acções dinâmicas, abrasivas e destrutivas realizadas sobre o papel. Enquanto o artista orienta gotas e projecções de metal em fusão dentro de uma superfície previamente delimitada e desenhada, o processo gera marcas de queimadura, perfurações, manchas e raios. Os traços e cicatrizes dirigidos, mas imprevisíveis, desenham as figuras, conferindo-lhes uma presença aurática enigmática e inquietante, como se estivessem suspensas entre o seu surgimento e a sua dissipação. A representação do humano através dessas fortuitas escarificações transmite a ideia de pulverização corporal, como se o corpo estivesse exposto a uma explosão invisível, a balas ou a um trauma doloroso, revelando as preocupações do artista com questões como guerras e violência, migrações, deslocações e fronteiras.

 

Mais recentemente, Pedro Pires tem produzido esculturas antropomórficas feitas de bidões de plástico amplamente utilizados em África para óleo de cozinha, água ou gasolina. A par do uso deste objecto comum e quotidiano, sem valor, o artista integra tecidos coloridos das tradições Vlisco e Wax, entrançando-os em sucessivos nós que formam capuzes ou longas vestes que cobrem tanto as cabeças dos seus bustos metálicos como os corpos das figuras humanas de pé. Caindo da cabeça até aos joelhos, deixando à vista apenas as pernas e os pés da escultura, esta apresentação convoca ideias de anonimato e hibridização nos processos de definição de identidade cultural.

 

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