A FUGA (de António Faria)
Os labirintos foram usados nos jardins clássicos do século XVII como elementos ornamentais que funcionavam paralelamente como enigmas imersivos de grandes dimensões que instigavam a exploração e também a reflexão.
O desafio colocado a António Faria foi o de construir uma exposição no ISPA em torno do conceito de labirinto, o qual ressoa com a instituição a múltiplos níveis, da arquitetura escheriana do seu espaço físico, à representação metafórica dos meandros da mente humana, seu objeto primal de estudo. O labirinto remete também para o processo de criação artística, o qual extravasou o domínio do retinal e entrou no domínio do enigma, na tentativa contemporânea de criação de significados.
A resposta de António Faria a este desafio é A Fuga!
O Labirinto de António Faria é vertical, pende do céu, contido no teto da galeria do ISPA. Revemo-nos na caveira de grande escala que o contempla a partir da parede que domina a instalação. A presença lateral de paisagens montanhosas convoca as viagens filosóficas de René Daumal pelo Monte Analogo, as escaladas de cada um de nós, inacabadas... E uma vez no centro da instalação, rodamos 180o e vislumbramos por entre o labirinto pendente uma projeção de vídeo com uma paisagem de água cintilante. É a salvação ao nosso alcance. Tal como o mestre Wang-Fô, nos contos orientais de Marguerite Yourcenar, se salva da sentença de morte decretada pelo Imperador entrando numa canoa que ele próprio pinta na paisagem marítima na qual estava a trabalhar, fugindo assim da realidade através da sua própria criação, também António Faria nos indica o caminho da arte como Salvação!
A Fuga de António Faria mostra-nos como a arte nos pode libertar dos nossos labirintos, de como nos pode ajudar nas nossas buscas, e de como questionar é muitas vezes de uma mestria maior do que obter respostas. E, paradoxalmente, a resolução do labirinto que António Faria nos propõe mostra-nos como a estética continua central na busca de significados.
- RUI OLIVEIRA
A exposição está patente de 7 de Novembro de 2024 a 31 de Janeiro de 2025.
Morada: ISPA, R. Jardim do Tabaco 34, 1149-041 Lisboa