HEAVY IS THE HEAD: Solo Show by Sanjo Lawal

Apresentação

Heavy is the Head reúne dezassete obras inéditas, produzidas entre 2022 e 2025, e assinala a estreia internacional do fotógrafo nigeriano Sanjo Lawal. . O conjunto inscreve-se numa conjuntura decisiva da fotografia africana contemporânea, na qual o telemóvel se assume não apenas como instrumento técnico, mas como veículo de emancipação estética e política.

 

Desde o século XIX, a cultura de estúdio em Lagos, Bamako, Accra ou Dakar desempenhou um papel fundamental na construção de identidades visuais africanas. Durante décadas, os retratos aí produzidos constituíram espaços de autoinscrição e de projeção, territórios de negociação entre tradição e modernidade, entre memória e futuro. Sanjo Lawal é herdeiro direto dessa linhagem, mas reconfigura-a com radicalidade: o estúdio já não se define pelo espaço físico, mas pela portabilidade; a câmara já não é volumosa e distante, mas quotidiana, íntima e acessível — o telemóvel.

 

Ao elegê-lo como ferramenta de criação, Lawal subverte hierarquias sedimentadas na história da fotografia, liberta-se da dependência de equipamentos dispendiosos e das convenções técnicas do cânone eurocêntrico. Democratiza, assim, o acto de olhar, pois no centro da sua prática reside a possibilidade de cada sujeito — artista ou retratado — se apropriar da imagem como acto de soberania.

 

Fundos saturados e composições vibrantes conferem a Heavy is the Head uma assinalável monumentalidade cromática. Trata-se de uma série em que a manipulação digital, longe de se reduzir a artifício, expande o visível para uma dimensão visionária e afrofuturista, enquanto a teatralidade da pose converte cada modelo em figura mítica. O fila e o gele, símbolos yorùbá de prestígio e realeza, surgem como coroas contemporâneas, devolvendo aos retratados a dignidade de serem vistos como portadores de história, de memória e de soberania.

 

Sanjo Lawal convoca a moda não como adereço, mas como ritual. Nos seus retratos, o traje e a pose transcendem o efémero para se converterem em gramática visual de identidade. É precisamente neste cruzamento — entre moda e tradição, manipulação digital e cultura de estúdio, telemóvel e herança visual africana — que se revela a originalidade da sua prática.

 

Heavy is the Head afirma-se, assim, como gesto inaugural e necessário, consagrando a inscrição de Sanjo Lawal numa nova geração de criadores que, apropriando-se do mais quotidiano dos dispositivos tecnológicos, reconfiguram radicalmente a narrativa visual africana, situando-a no espaço global sem abdicar da sua densidade histórica, simbólica e ritual.

Obras
Installation Views