DRAWING ROOM LISBOA: Ana Malta, António Faria & Cássio Markowski
Impermanentia
Para a Drawing Room 2025, o THIS IS NOT A WHITE CUBE apresenta Impermanentia, uma seleção curatorial de obras de três artistas contemporâneos—Ana Malta, António Faria e Cássio Markowski—que, através das suas distintas práticas no campo do desenho, abordam a natureza transitória da memória, da identidade e da existência. Este projeto reúne três univeros artísticas que, embora deflectindo na abordagem, comungam numa subtil exploração das noções de transformação, fragilidade e de fluxo do tempo.
A prática artística de Ana Malta encontra-se profundamente ancorada na exploração das relações íntimas entre o corpo, a memória e os espaços domésticos através dos seus expressivos desenhos a pastel. As suas obras de desenho, frequentemente caracterizadas por uma figuração espontânea e quase infantil, estão imbuídas de cores vibrantes e texturas sobrepostas, permitindo que o corpo surja como um arquivo vivo de histórias e emoções. Ao navegar entre o limiar do pessoal e do universal, a prática de Ana Malta transforma o corpo numa matriz de memórias, elevando as experiências quotidianas a signos de identidade, pertença e do delicado equilíbrio entre o passado e o presente.
O seu trabalho de desenho, produzido a partir do gesto expressivo e da sobreposição de formas, não só dá forma ao efémero, como reflete a tensão entre a permanência e a transitoriedade. Através da incorporação de expressões idiomáticas portuguesas e da sua reinvenção por neologia, Ana Malta evoca um diálogo visual que entrelaça a linguagem com a memória, a experiência e a representação visual, levando o espectador a imiscuir-se numa experiência emocional e sensorial. Em Impermanentia, as suas obras materializam um contínuo processo de transformação, apreendendo a ideia da fragilidade da memória e da identidade pela natureza mutante da sua linguagem visual.
A obra de António Faria confronta a fragilidade da natureza e a mortalidade humana através de uma poética interação entre desenho e instalação. As suas composições de grande escala e monocromáticas evocam a decadência da natureza e o passar do tempo, capturando momentos fugazes que transmitem tanto presença como ausência. A prática de António Faria transcende a representação. Oferece uma experiência visceral da paisagem emocional moldada pela erosão da vida e pela dissolução inevitável de todas as coisas. Em Impermanentia, António Faria apresenta um novo corpo de trabalho que aprofunda a sua exploração da memória, da decadência e da beleza efémera da existência. Através da repetição reiterada e da cuidadosa atenção à textura, a sua prática produz superfícies que transcendendo o momentâneo, se convertem em monumentos à impermanência da vida.
A obra de Cássio Markowski, particularmente a sua recente série Folds of Time and Memory, apresenta uma narrativa complexa que entretece memória pessoal, história cultural e identidade ancestral. Marcado por uma extensa referência às tradições afro-brasileiras e a uma iconografia sincrética, Cássio Markowski produz um diálogo visual entre as realidades históricas, o trauma coletivo e a experiência autobiográfica. Informado por uma cosmovisão iorubá, que entende o tempo como cíclico em vez de linear, na série Folds of Time and Memory explora a criação, a destruição e a renovação. Os seus desenhos sobre tela refletem a impermanência da memória cultural, à medida que o passado e o presente se curvam um sobre o outro, revelando a transformação contínua da identidade e da história. As obras de Cássio Markowski, ricas em referências a arquivos históricos e histórias familiares, oferecem um espaço onde o passado se reafirma no presente, revelando a fluidez da evolução cultural.
Em conjunto, a obra de Ana Malta, de António Faria e de Cássio Markowski convergem numa exploração partilhada da natureza transitória da memória, da identidade e da história. Através da sua abordagem distinta, cada qual intercepta ensejos de transformação, incitando a assistência a examinar a natureza fugaz, mas profunda, da existência. Impermanentia preconiza um espaço onde a beleza efémera da vida e o contínuo redesenhar da memória individual e coletiva se declaram —não como momentos separados, mas como parte de um diálogo contínuo que transcende o tempo e a forma.