Cássio Markowski é um artista brasileiro, actualmente a viver em Lisboa, cuja prática se desenvolve sobretudo no desenho e na pintura, embora também explore o vídeo e a instalação como formas de expandir o seu vocabulário artístico. A sua produção assenta num processo contínuo de documentação de diferentes aspectos socioculturais da história afro-brasileira, recorrendo à investigação em arquivos, bases de dados de imagens e mercados de rua, onde recolhe livros antigos, fotografias, ilustrações, jornais, anúncios e álbuns de família.

O universo visual de Markowski, simultaneamente autobiográfico e ficcional, político e poético, teatral e onírico, entrelaça memórias pessoais com experiências e traumas colectivos. A sua obra recorre frequentemente à iconografia religiosa — em especial à versão sincrética do catolicismo presente no Brasil — como elemento simbólico de reconexão espiritual e cultural.

A sua abordagem artística revela uma preocupação constante com questões de identidade cultural e com tradições em risco de desaparecer, sublinhando os frágeis vínculos que ainda ligam o passado ao presente. Através de imagens refinadas e densamente estratificadas — que evocam tanto a fauna e a flora como realidades históricas, aspirações colectivas e visões interiores —, o artista convida a uma nova percepção da relação humana com a natureza e com o mundo vivo, destacando o seu valor estético, espiritual e universal.

Na obra A cura II, estas dimensões condensam-se na figura das benzedeiras — mulheres que, através de práticas ancestrais, procuram curar o corpo, o espírito e a matéria. Benzer, neste contexto, é um acto de cuidado: uma forma de ligação com os elementos da natureza e com forças que transcendem a compreensão racional. A obra, carregada de simbolismo e gestualidade ritual, presta homenagem à sabedoria popular e à espiritualidade como vias de resistência, reparação e reconexão.